Sobre
José Gurgel
José Gurgel da Silva Melo, conhecido como Zé Gurgel, nasceu em Mossoró, no ano de 1940. Os seus primeiros estudos formais, Zé Gurgel os fez na Escola Técnica de Comércio “União Caixeral”, onde concluiu o curso Comercial Básico, em 1960. Posteriormente estudou no Colégio Estadual de Mossoró, apenas o 1º ano Científico, em 1962. Retornando à “União Caixeral”, concluiu, em 1966, o curso de Auxiliar de Escritório, e em 1967, o Colégio do Comércio, habilitando-se como técnico de contabilidade.
Dono de uma inteligência privilegiada, Zé Gurgel desde cedo manifestou-se um homem visceralmente ligado às artes e à cultura, tendo sido permanente a sua preocupação pelo social, revelando, em tudo que fazia, uma profunda sensibilidade humanística. Assim, em meio a efervescência da década de 60, e movido por sentimentos relacionados às múltiplas atividades – políticas, artísticas e culturais – que já desenvolvia à época, Zé Gurgel direcionou-se para o estudo superior das Ciências Sociais, ingressando na Faculdade de Filosofia, em 1968, ano da fundação da Universidade Regional do Rio Grande do Norte e graduando-se em 1971.
Ao longo das décadas de 60 e 70, Zé Gurgel abraçou o magistério, foi professor de Organização Social e Política Brasileira no Colégio Diocesano Santa Luzia e no Colégio Estadual de Mossoró, e também do curso de Ciências Sociais, da UERN. Essa época foi, certamente, das mais movimentadas para Zé Gurgel, mobilizando-se em torno da arte e da cultura, manifestadas através da pintura, da música e do teatro. É impossível, pois, separar com nitidez as múltiplas e prodigiosas faces de Zé Gurgel, distinguir o homem do artista, principalmente nos seus tempos de Mossoró.
Dotado de finas sensibilidades, desde cedo revelou-se um artista plástico exemplar, abraçando a pintura primitivista, cujos quadrados estão relacionados com o conteúdo social sempre presente. Produziu um acervo razoável, mostrado nas poucas exposições que conseguiu realizar. Essa sua produção o credenciou a assumir o posto de coordenador do Atelier de Artes, da Secretaria de Educação e Cultura do Estado do Rio Grande do Norte.
Amante da música, sobre tudo da MPB, fez-se compositor. Das várias letras e músicas que escreveu, algumas defendeu no Festival Estudantil da Canção, do Centro Estudantil Mossoroense, e no Festival da Canção Popular, do Movimento de Extensão Cultural e Artística, da URRN, acontecidos nos anos 60 e 70.
O teatro foi outra grande paixão de Zé Gurgel. Uma paixão que o levou a definir-se profissionalmente mais tarde, quando estabeleceu-se em Natal, como professor da UFRN. E como na música e pintura, igualmente destacou-se, como ator e diretor, ao lado de grandes nomes do nosso teatro dos anos 60 e 70, como: Lauro Monte Filho, Maria Lúcia Escóssia, Judas Tadeu de Azevedo, Ivonete de Paula, os irmãos Kiko e Tarcísio Gurgel (primos), Felipe Caetano, padre Alfredo Simonetti, a fantástica Maria José Melo, sua irmã, e tantos outros que marcaram uma época de ouro do teatro mossoroense.
Vale ressaltar ainda, a evolução de uma confraria literária existente em Mossoró na década de 60 para 70: o Círculo Literário Machado de Assis. Outra marca de Zé Gurgel. Criado e organizado por ele, Tarcísio Gurgel e Luiz Alves Neto, esse Círculo produzia uma revista literária, datilografada, que percorria entre a intelectualidade da época.
Em 1975, novas portas se abriram para Zé Gurgel transferiu-se para Natal, indo trabalhar na TV Universitária (na época ainda vinculada ao INPE), como produtor de programas educativos do Projeto Saci. Posteriormente, ingressou, em definitivo, na UFRN, tornando-se professor de Cenografia, do curso de Educação Artística, coordenador e depois chefe do Departamento de Artes, após ter se habilitado, em Cenografia, na Escola de Teatro do Rio de Janeiro, em 1977.
Em Natal Zé Gurgel ficou até a sua morte, em 28 de abril de 1987, produzindo e ensinando artes, deixando viúva a professora Gessy Ferreira Maia Melo, com quem se casara em 1969, e tivera dois filhos: Aliana Maia Melo e Vlademir Maia Melo.
Eis um rápido passeio pela vida de um homem que se destacou em seu tempo como um dos mais lúcidos construtores da cultura mossoroense; um dos mais expressivos da intelectualidade de então. Um boêmio nato, que chegou inclusive a ter um bar, em parceria com Tarcício Gurgel, o Viet –Bar, nos anos 70, onde as noites eram vivenciadas por discussões políticas e culturais, principalmente sobre cinema e música popular brasileira.
*Fragmentos da Conferência pronunciada por José Maria de Araújo Caldas no Salão do Museu Municipal de Mossoró, em 21 de maio de 1993, numa parceria com o ICOP e AMOL.